Pesquisa da Meu Dividendo mostra que montante pago ao acionista em JCP aumentou de 25% para 47% em 2023; dividendos caem entre estatais
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O cenário econômico em 2023, ano que prometia bater recorde de dividendos, vem favorecendo na verdade o pagamento de JCPs (Juros sobre Capital Próprio).
Diante de tantas incertezas no horizonte, as empresas brasileiras estão se apoiando cada vez mais nessa modalidade para remunerar acionistas . Entre janeiro e outubro deste ano, 47% do total repassado aos acionistas de todas as empresas privadas de capital aberto foi em Juros sobre Capital Próprio ante 25% no mesmo período de 2022. Os dados são da plataforma financeira Meu Dividendo e foram divulgados nesta terça-feira (24).
A distribuição de JCP neste ano se iguala a outro período de incerteza: a pandemia. Em 2020, os Juros sobre Capital Próprio corresponderam por 47% do total de proventos.
Os dividendos, por outro lado, mantém maioria do montante distribuído, mas com queda de 74% para 53% do total. A explicação é de que setores mais perenes da bolsa, como o elétrico, deixaram de remunerar mais via dividendos, afirma o CEO e cofundador da Meu Dividendo, Wendell Finnoti. Outro 1% de 2022 representa bonificações, amortização e outros rendimentos tributáveis.
Estatais estão entre as que mais usam JCP em 2023
Algumas das queridinhas na bolsa pelos dividendos vêm aumentando a distribuição de JCP em 2023. O levantamento da Meu Dividendo mostra que Petrobras (PETR3;PETR4), Copel (CPLE6) e Cemig (CMIG4) aumentaram a proporção de repasse de Juros sobre Capital Próprio.
Para Finnoti, é nítido que as empresas querem acumular mais caixa de olho no cenário instável da economia global. As duas guerras – uma na Ucrânia e outra na Palestina – e a desaceleração da China no primeiro semestre contribuem para a queda de dividendos em 2023.
“Até maio de 2023, tivemos um janeiro recorde na distribuição de dividendos”, nota o cofundador da Meu Dividendo. “Mas o ano foi perdendo fôlego e a partir de junho tivemos uma desaceleração de 31% no repasse de proventos”, afirma.
No cenário doméstico, não houve alívio suficiente para justificar o aumento de repasse de lucros. A taxa de juros continua em dois dígitos enquanto empresas assumem uma postura mais defensiva com a reforma tributária no horizonte.
Neste ano, cada setor “está com sua dor de cabeça”, diz Finnoti. As empresas elétricas, por exemplo, vem distribuindo menos dividendos de olho nas concessões públicas de linhas de energia, afirma o especialista.
O governo já realizou um leilão em junho e pretende concluir outro certame em dezembro.
Prazos para pagar dividendos aumentaram
Além do aumento de pagamentos de JCP, o levantamento do Meu Dividendo mostra que empresas de capital aberto estão demorando cada vez mais para pagar dividendos.
A média de dias calculada entre a data com, prazo limite para ter as ações de uma empresa com direito ao pagamento de dividendos, e a data de pagamento é de 67 dias em 2023.
Desde 2020, o prazo médio para a distribuição vinha caindo e chegou ao menor nível em 2022, com média de 55 dias. “Isso mostra outra semelhança com a pandemia”, afirma Finnoti.
“A extensão dos prazos afeta os investidores, com uma forte desvalorização de seus proventos, já que não há correção monetária dos valores”, explica o cofundador da plataforma financeira.
O prazo médio em outubro é o maior em 6 anos: 117 dias entre a data com e o pagamento dos dividendos.