Como evitar ser seduzido por dividendos fakes

Como evitar ser seduzido por dividendos fakes meu dividendo

O conteúdo a seguir é de autoria e direito intelectual do portal Monitor Mercantil.

Por Gilmara Santos

Ter uma parcela do lucro apurado por uma sociedade anônima é um importante atrativo para os investidores, mas é necessário cuidado no momento em escolher ação com foco em recebimento de dividendos. “Algumas empresas podem pagar dividendos para trazer um ‘suspiro’ de esperança para os investidores, mesmo estando em uma situação crítica em termos financeiros”, diz Vicente Guimarães, CEO da VG Research. “Obviamente o anúncio de dividendos sempre atrai investidores desavisados. Neste processo também entra o fluxo especulativo dos traders que esperam a valorização da ação após o anúncio dos dividendos. Mas tudo não passa de uma ‘nuvem de fumaça’ para tentar disfarçar problemas maiores nas finanças e nos negócios das empresas”, complementa.

Recentemente, o rombo financeiro de cerca de R$ 40 bilhões na Americanas trouxe à tona essa questão. Apesar do rombo financeiro, levantamento realizado por Filipe Ferreira, diretor da ComDinheiro, mostra que os acionistas relevantes da companhia, que tinham acima de 5% de participação, receberam juntos cerca de R$ 1,23 bilhão em distribuição de dividendos nos últimos 20 anos. Só no ano passado, foram R$ 168,6 milhões.

Para não cair em armadilha, Wendell Finotti, CEO e fundador da plataforma Meu Dividendo, aconselha que é importante o investidor estar atento à gestão do negócio. “Se a empresa está se endividando e está distribuindo dividendos, é um sinal de alerta e tem que ter cuidados. Ficar de olho no dividend yield, quanto está distribuindo de dividendos em relação ao seu lucro, porque muitos estão pagando mais dividendos do que geraram de lucro e só uma gestão sustentável para garantir investimentos no futuro”, aconselha.

Sinais de alerta

Guimarães lista algumas características que indicam a falta de sustentabilidade no pagamento dos dividendos futuros. Confira:

1 – A empresa deve apresentar um histórico consistente de lucros. Muitas empresas listadas na Bolsa de Valores nuca tiveram prejuízos enquanto outras têm prejuízos consistente e dívidas crescentes. As empresas lucrativas são candidatas perfeitas a serem excelentes pagadoras de dividendos. As empresas com dificuldade para sustentar seus lucros não devem ser o foco do investidor.

2 – A empresa deve apresentar um histórico consistente de dividendos. As empresas que pagam bons dividendos têm políticas de dividendos (formais ou implícitas) que garantam ao investidor uma maior previsibilidade no pagamento de dividendos.

3 – Empresas que pagam bons dividendos têm endividamento controlado e pouca (ou nenhuma) dívida. O que é um endividamento controlado? É uma dívida estável, no qual o pagamento dos juros não afeta o desempenho (lucro) da companhia. Desconfie quando uma empresa muito endividada pagar dividendos elevados.

4 – Recorrência e dividendos muito altos (acima de 20% por ano) devem acender um alerta na cabeça do investidor. “É muito difícil uma empresa sustentar um dividendo tão elevado. Geralmente esse valor pago é pontual. Usando a linguagem de ‘mercado’, um dividendo derivado de um ‘efeito não recorrente’. Por exemplo a venda de um imóvel, de uma fábrica, um ganho judicial etc. Tudo isso pode levar a uma distribuição extraordinária de dividendos”, diz Guimarães.

Sustentabilidade

Guilherme Gentile, head de análise da Dividendos.Me, concorda que eventos extraordinários podem ocasionar uma distribuição fora do comum, levando o investidor a acreditar que aquele dividendo se repetirá no futuro. “Distribuir dividendos faz parte das obrigações de uma companhia aberta, pois nada mais é do que a remuneração do financiamento via capital próprio. O que não pode ocorrer é que a política de dividendos comprometa a sustentabilidade da empresa. O investidor deve ficar atento às fragilidades do negócio”., afirma. Gentile lembra que não existe um percentual ideal, pois tudo depende de empresa para empresa. Mas um fato é certo. Contar com dividendos hoje pode não ser sustentável no longo prazo. “Nem tudo o que reluz é ouro”, alerta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *